
O Crente Frio
Amados irmãos e amadas irmãs em Cristo, nesses últimos dias o Espírito Santo vem me mostrando, em sonhos, alguns assuntos sobre sua igreja, quando falo igreja não me refiro às Instituições. Afinal, estamos cansados de saber que o Espírito de Deus não habita em templos feitos pelas mãos dos homens e que nós somos o templo do seu Espírito.
Notamos, de modo geral, que a frieza, a carnalidade, a vaidade, a corrupção, a mentira, o engano, a ganância, a sensualidade, o desejo desenfreado, estão tomando conta dos corações, que deveriam estar recheados de amor, bondade, devoção, longanimidade, fé, esperança, visão, revelação, união, paz entre outras qualidades de um verdadeiro Cristão.
E quais seriam os motivos de tanta frieza?
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Amenização do pecado. Geralmente esses crentes consideram o doce amargo, o amargo doce; luz em escuridão; escuridão em luz. Sob essa ótica, não veem problemas do ato sexual antes do casamento, em defraudar o seu irmão, em mentir, em promover suborno, fazer fofocas, intrigas e mexericos, produzir contendas e muito mais.
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Não valorizam a oração. Um crente que não ora e não acredita na importância das orações, intercessões e ações de graça é um crente desprovido da vida de Deus em suas estruturas espirituais.
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Amor ao mundo: Um crente frio ama o mundo e as coisas que há no mundo. Nessa perspectiva permitem que os valores deste século prevaleçam sobre aquilo que as Escrituras dizem e ensinam.
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Um crente que menospreza parte das Escrituras. Para ele, a Bíblia não é toda a Palavra de Deus e, em virtude disso colocam aquilo que sentem, acham ou pensam acima das verdades contidas na Bíblia.
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Um crente frio é desprovido de amor. Para certos crentes, gente é tratada como coisa e não como pessoas que possuem dores, angústias, problemas e carências. E pensam assim: - se estão passando por certas aflições e provas com certeza isso é a mão de Deus.
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Um crente frio é caracterizado pela ausência de misericórdia em suas estruturas. Nessa perspectiva os órfãos são negligenciados, as viúvas abandonadas e os pobres desprezados.
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Um crente frio é desprovido de santidade. Para ela, conceitos como "separação do mundo" e “Consagração” são antiquados e ultrapassados.
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Um crente frio é não se relaciona com seus irmãos.
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Um crente frio valoriza os defeitos e erros dos irmãos em detrimento às virtudes e valores.
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Um crente frio há muito perdeu o temor do Senhor.
E de onde estaria vindo tanta frieza?
A situação nas igrejas, salvo as honrosas e raras exceções, é de extrema pobreza e mediocridade nos púlpitos. Diariamente são oferecidos sermões mortos, pregações vazias, discursos inócuos, preleções insossas. A igreja tem sido submetida a uma dieta espiritual terrível: uma sopa rala que não nutre a fé. Existe um contingente expressivo de pessoas sem maturidade e estatura espiritual, e Igrejas cheias de pessoas vazias. Há muita gente sofrendo o processo de inanição espiritual por falta da pregação e exortação da Palavra guiada e movida pelo Espírito da Graça.
Um breve estudo da História cristã nos mostrará que existe uma estreita relação entre a pregação sadia da Palavra e a vida saudável da igreja. Todas as vezes que a pregação do evangelho floresce seu impacto se torna evidente na vitalidade da igreja e na subsequente transformação da cultura.
Se alguém se dispusesse uma semana a ler a Bíblia e, na semana seguinte, se familiarizasse com os principais acontecimentos da história da igreja, o que observaria? Que a obra de Deus no mundo e a pregação estão intimamente ligadas. Onde Deus age, ali a pregação floresce. Em todos os lugares em que a pregação é menosprezada ou está ausente, ali a causa de Deus passa por um tempo de improdutividade. O Reino de Deus e a pregação são irmãos siameses que não podem ser separados. Juntos, eles permanecem de pé ou caem.
A igreja brasileira sofre por causa do declínio da pregação. A falência dos púlpitos é uma tragédia para o povo de Deus. Há muitos oradores, mas poucos pregadores. Há uma enorme carência de homens que preguem o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo. O que se tem visto, de norte a sul do Brasil, são homens superficiais que oferecem um tipo de “alimento” incapaz de nutrir a fé. Boa parte dos cristãos não sabe o que significa o evangelho. Muitos não conhecem as verdades elementares da fé cristã. As implicações desta triste realidade são avassaladoras. O cenário evangélico brasileiro é constituído de igrejas teologicamente confusas, moralmente frouxas, socialmente inoperantes e espiritualmente decadentes.
E QUAIS SÃO OS RESULTADOS DESSE FRACASSO DA PREGAÇÃO NA VIDA DA IGREJA?
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Empobrecimento do culto.
Na estrutura do culto, a exposição bíblica é o principal ato de adoração. Culto público de adoração sem a pregação do evangelho não é apenas pobre, é falso. O que vemos hoje é a “marginalização” do púlpito. Há uma percepção de que o púlpito é apenas um móvel decorativo na igreja e que alguém tem que usá-lo para alguma coisa. É triste e lamentável constatar a pobreza dos cultos. A falta de pregação da verdadeira palavra de Deus e a quantidade de pregações medíocres e até heréticas no conteúdo é um escândalo. Quando a pregação não ocupa o centro do culto e a Palavra perde a devida primazia na vida da igreja, prevalecem o subjetivismo, o antropocentrismo, o sensacionalismo, o paganismo e todo tipo de excentricidades. Tais coisas, por sua natureza, não glorificam a Deus e não edificam a igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo.
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Desfibramento moral da igreja.
Se a pregação é o principal meio de graça, através do qual a igreja é santificada pela ação do Espírito Santo, onde não há pregação do evangelho, a corrupção do coração é potencializada e se manifesta com maior força. Existem contundentes evidências da falta de integridade moral por parte de muitas pessoas que confessam ser cristãs. Valores e práticas incompatíveis com a Palavra de Deus se tornaram comuns no meio evangélico. Se o profeta Oséias pregasse para essa geração de cristãos no Brasil, sua mensagem seria: “Volta, ó Israel, para o Senhor, teu Deus, porque, pelos teus pecados, estás caído”. A exortação do Cristo ressurrecto à igreja em Sardes é bem adequada à igreja brasileira: “... não tenho achado íntegras as tuas obras na presença do meu Deus”... Uma das razões pelas quais a igreja padece de fraqueza moral é porque há uma tendência dos púlpitos modernos a propagar uma mensagem que informa, mas não transforma, que diverte, mas não converte.
3) Confusão doutrinária no seio da igreja.
João Calvino, grande teólogo e experiente pastor, afirmou:
“a ignorância é a mãe de todas as heresias”.
Onde a verdade é negligenciada floresce o erro. O Brasil, conhecido por sua cultura mística de profundas raízes no paganismo, é terreno fértil para a proliferação de ensinos errados. As matizes, quer sejam a pajelança indígena, os ídolos do catolicismo romano, os rituais afro-ameríndios, o kardecismo anglo-saxão ou as seitas “evangélicas”, conspiram contra o genuíno evangelho. Nesse cenário de múltiplas divindades, variados cultos e tantos credos, o enfraquecimento do magistério da Palavra e a negligência da pregação tornam a igreja vulnerável e criam o ambiente para o sincretismo. Não seria essa a triste realidade da igreja evangélica no Brasil?
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Decadência espiritual.
Um púlpito fraco, frequentado por néscios pregadores é a maior tragédia da igreja. Pr. Spurgeon estava certo ao afirmar que:
“o mais maligno servo de Satanás que conheço é o ministro infiel do evangelho”.
O fracasso da pregação é a causa primária da miséria espiritual da igreja. Sempre que a igreja é transformada em teatro da fé, o púlpito em vitrine de vaidades, o culto em serviço de entretenimento e o pregador em animador de auditório, a decadência espiritual é inevitável. À luz das Escrituras, a falta de santidade, devoção, misericórdia, sabedoria, compaixão, fervor, piedade, vida e amor são evidências do declínio espiritual. A igreja tem dado sinais de fraqueza espiritual e existem algumas razões pelas quais isso acontece.
O notável João Crisóstomo indica uma delas.
"Quando você vir uma árvore cujas folhas estejam secas e murchas, algo de errado está acontecendo com as suas raízes; quando você vir um povo indisciplinado, sem dúvida, os seus sacerdotes não são santos".
A igreja que tolera um pregador negligente no ministério da pregação comete suicídio.
QUAIS SERIAM OS FATORES CONTRIBUINTES PARA O DECLÍNIO DA PREGAÇÃO?
O declínio não foi súbito, mas gradual. Um estudo criterioso apontará as razões pelas quais a glória da pregação tem sido apagada. O renomado Dr. Albert Mohler aponta alguns elementos significativos, dentre os quais, destaco três:
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A pregação contemporânea sofre de perda na confiança no poder da Palavra
Muitos pregadores não creem na autoridade da Bíblia como infalível Palavra de Deus. É impressionante constatar a quantidade de pregadores que deveriam nutrir a fé da igreja a partir da pregação da Palavra, mas não o fazem porque não confiam que de fato a Bíblia é a Palavra de Deus. Se um homem nega a inspiração, autoridade e suficiência da Escritura, ele não está qualificado para pregar.
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A pregação contemporânea sofre de focalização em necessidades sentidas
A principal necessidade do ser humano é a paz com Deus por meio de Cristo. Desconsiderar essa verdade torna o púlpito um centro de aconselhamento para tratar realização profissional, saúde financeira e relacionamentos interpessoais. A psicologização do púlpito é uma triste realidade no cenário evangélico brasileiro. Enquanto os pregadores gastam tempo falando sobre os sete passos para melhorar o casamento, muitos casais nada sabem sobre o que significa o texto: “Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela”.
O pregador moderno precisa voltar-se para o estudo profundo das Escrituras e para a pregação expositiva da revelação divina. Pequenos sermões tópicos, carregados de ilustrações sentimentais, que se ouvem nos púlpitos, não satisfazem as mais profundas necessidades espirituais dos ouvintes.
Felizes são as igrejas cujos pregadores pregam a Palavra de Deus. A história testemunha que as igrejas que mais crescem espiritualmente são aquelas que valorizam a pregação. Enquanto o púlpito não ocupar a primazia no culto não haverá edificação.
ENCORAJAMENTO AOS PREGADORES
A Reforma Protestante, a despeito de todas as acusações de seus detratores, deixou um glorioso legado para o cristianismo, o resgate da pregação pública da Palavra de Deus. Os reformadores não inventaram a pregação, mas certamente lutaram para que ocupasse a primazia no culto cristão. Eles exortavam os que estavam sob a sua liderança a buscar excelência na pregação da Palavra.
John Owen declarou:
“o primeiro e principal dever de um pastor é alimentar o rebanho pela pregação diligente da Palavra”.
Para tanto, eles tinham um pressuposto e uma motivação. Primeiro, eles entendiam que a pregação da Palavra de Deus é “um meio de graça indispensável e sinal infalível da verdadeira igreja” (Calvino). Segundo, a incansável luta desses gigantes da fé tinha como alvo a glória de Deus. Sendo essa a motivação primária para subir ao púlpito e anunciar o evangelho da graça. Deus é glorificado quando a igreja é edificada, e isso acontece através da diligente e fiel pregação da Palavra.
Martin Lloyd-Jones disse que a pregação é a tarefa mais importante do mundo. Calvino entendia que o púlpito é o trono de onde Deus governa a sua igreja.
A reforma da igreja começa no púlpito da igreja.
“O avivamento da igreja acontece quando se acende uma fogueira no púlpito”. (D. W. Moody).